Os sons da mata se misturam com o murmúrio suave da chuva, criando uma melodia hipnótica, pontuada pelos pequenos pingos que caem das folhas. Os ecos das criaturas noturnas acompanham essa sinfonia natural, e tudo nesta noite sinalizava o mau presságio, a própria escuridão enunciou a chegada de algo inquietante.
Para quem se aventurasse na grande floresta de ébano, entre as montanhas escuras, os muros de pedra do castelo surgiriam imponentes e silenciosos à distância.
Dentro do castelo, veio ao mundo Cantu, o bastardo da casa Raven. Seus cabelos brancos e a pele pálida refletem a luz da lua que entrava pela janela da torre. Mesmo sendo um recém-nascido, ele não chorou; como se sentisse que sua chegada não era desejada.
Sua mãe, que o teve em um parto solitário, rezou para que o nascimento passasse despercebido. Desejando que ninguém soubesse do ocorrido, sua vontade era que, assim como os outros, o bastardo pudesse crescer como um filho secundário na rígida família. No entanto, este futuro não seria possível.
Após o parto, a concubina, cujas forças foram drenadas, lentamente recuperava-se.
A escuridão do quarto pesava sobre seus ombros, mas a determinação em seus olhos revelava uma firme resolução. Com um esforço visível, ela desceu as escadas em direção ao grande salão do castelo. Cada degrau era um impulso para continuar.
Com suor e sangue manchando os degraus iluminados pelas tochas, a dança das chamas projetava sombras tremulantes sobre o rosto da criança. Apesar de determinada em seu propósito, ela aproveitava aqueles breves momentos para gravar em sua memória cada detalhe de seu filho, consciente de que talvez nunca mais o visse.
Já no local, a atmosfera era fria e austera. Próximo às escadas, o mercador Simão da família Broenni, esperava com uma expressão grave.
A concubina, respirando com dificuldade, com um gesto rápido e desesperado entregou a criança a Simão. Sua única chance de garantir a sobrevivência de Cantu era enviá-lo para longe, onde ele pudesse crescer fora do alcance das cruéis tradições que o cercavam.
Simão pegou a criança com cuidado e, ao verificar a cor de seus cabelos, a expressão em seu rosto se fez ainda mais grave. Ele sabia que sua missão era crucial e que o tempo estava se esgotando. Sem uma palavra, fez um sinal para seus homens, que aguardavam com uma carroça no pátio do castelo.
A concubina lançou um último olhar para o filho antes de se afastar com um gemido silencioso.
Simão se dirigiu para a saída, levando Cantu para longe dos muros que o haviam testemunhado nascer e da vida que ele estava destinado a nunca conhecer.
O tilintar das armaduras, junto ao ranger das rodas de madeira da carroça marcava o destino do jovem corvo, o caminho que ele trilharia é incerto, tal como a noite que o cercava.
Ansioso pelo próximo capítulo
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